quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Nestes pouco mais de trinta anos que venho galgando na superfície da Terra, vi e senti de perto uma pequena amostra grátis do cheiro da fome e da miséria humana. Presenciei a um “grande” circo pegar fogo em Belo Horizonte (07/04/1997) e também, através de nossos falhos meios de comunicação, assisti em tempo real, a queima de corpos vivos,


enclausurados num equipamento de transporte que se tornou um crematório coletivo das novas civilizações carioca. Uma tumba urbana. Barbárie. Espetáculo bizarro. Pode até ser. Como um singular lapuz, promulgo nestas linhas invisíveis: “Esta contemporânea esfera flutuante de pigmento azul, na qual habito, voltou a ser primitiva. Provando que a humanidade nunca traiu os instintos de seus saudosos antepassados.”

Já que toquei no assunto dos desenhos, exponho: minha existência patológica foi analisada a fio por nove e longínquos anos (1980/89) de tratamentos psicológicos, no sombrio consultório D’aquela que me diagnosticou com sua implacável metralhadora de perguntas irritantes que definhavam meu intelecto. A psicóloga-musa Doutora Alair atingia-me com rajadas profundas/fumegantes pelo menos, quatro vezes por mês. Cento e sessenta e oito horas. Tempo suficiente que precisava para me recompor das feridas abertas, até a próxima lenta, execução, sumária, semanal.

Certa vez em uma das sessões, indagou-me: o quê você mais gosta de fazer?
Murmurei: rabiscos para exteriorizar meu ínfimo Ser.
Ela retrucou: então, aceite esta matéria fibrosa de origem vegetal e segure firme este bastonete contendo um recheado cartucho de tinta negra.

Naquele precioso episódio, senti-me Rei. Para ser mais preciso, Rei de Copas. O Deserto em branco (a folha-espaço) cedido era meu macroscópico reino de possibilidades, apesar de delimitado. Quase uma década de reinado consecutivo para me haurir em províncias onde não delego nada. Exatamente, Nada. Soberano fui, comigo mesmo a cada zig-zag traçado por minhas hábeis mãos. Sob o olhar atento, a Dra. que psicografava mensagens assinaladas, ditas pelas entidades que se rebelavam perante nós. Formávamos uma profícua dupla. Sem que ela percebesse, percebi sua Real analogia com meu destacado caso em relação a seus outros inferiores pacientes. Ao saginar arquivos pessoais em mosaicos indecifráveis, nossa relação matrimonial seria amputada antes da Cópula Real. Senti por um instante que me haviam emboscado num matadouro de fantásticas personalidades. Precisava agir rápido antes que... Ela d’clamou: seu tempo acabou. E de fato hei de concordar. Nosso tempo acabou. Xeque-mate. Nossa transmissão não foi completada. Perdemos contato. Câmbio... Desligo.

Tempos depois me veio à pergunta: será que minha psicóloga se casou? Ela me parecia ter melindrados problemas afetivos/amorosos. Graves. Gravíssimos. Enquanto – sozinho em meu Divã – não encontro nenhuma resposta para os males aqui diagnosticados. Continuo envolto neste argumento aparentemente válido, mas, na real, não conclusivo e que supõe má-fé por parte de quem o apresenta. Chego a uma conclusão inadmissível como resultado da fórmula farmacêutica sem contra-indicação usada somente para ativar eficazes resultados de natureza psicológica. Em resumo, bebo na fonte de “Sofismos Placebos” para continuar exteriorizando Meus malogrados Renascimentos.

Hoje apenas lamento por nossas desconfortantes consultas terem sido suspensas num momento tão próximo do ápice, por motivos que finjo desconhecer, mas os revelo silenciosamente.

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