domingo, 15 de junho de 2008

Outras Tiras Podrex

Estas duas tiras pertencem a série “Mineiros do Arrudas” e foram publicadas na mini-revista “Tiras & Cartoons”, 2005.

A Tira “Mineiros do Arrudas” são tirinhas que satirizam situações cômicas do cotidiano e de domínio público, com singela ênfase em ditados populares, buscando um resgate da linguagem coloquial da região.

* A Tira 001. tem referências da lendária “Chiclete com Banana”.

A Tira “Estórias de JC” relata sobre coisas não tão loucas ou absurdas mas, que voam? É uma trinca de tirinhas esboçadas a partir de piadas de domínio público. Apenas estas duas foram publicadas na mini-revista “Tiras & Cartoons”, 2005.

* O Super-Mercado foi inspirado no trabalho do cartunista e colega de traço, João Marcos. Abraços do Podrera.

Tiras & Cartoons - HQ PORRA LOCA

A mini-revistinha intitulada como “Tiras & Cartoons” é a 1ª coletânea de tiras de vários personagens do Podrera, criados e produzidos ao longo de cinco anos. As situações retratam o dia-a-dia urbano da sociedade, com pitadas de ironia. Os personagens são figuras cômicas que sempre dão o ar de sua graça e o tom satírico na dosagem certa. Algumas tiras foram publicadas em jornais comunitários, estudantis, zines e sites. Outras, divulgadas em exposições e também de forma alternativa, fixadas em locais públicos e interiores de coletivos urbanos. Daí a origem da expressão: Invasão Bárbara Cartuniana. Por Léo (CCBH).

A publicação é independente através do selo/editora-artesanal: “Zine Oitava Arte”, fanzine produzido e editado pelo próprio autor entre os anos de 2003 e 2004.

A coletânea possui formato de um “mini talão de cheques”, tamanho 65x140cm, capa colorida em papel cuchê, miolo p&b - 24 páginas. 1ª edição com tiragem de 100 exemplares. Artigo esgotado.
;(ATELIER PODREX

sexta-feira, 13 de junho de 2008

SPEECH in construction



Trecho de SPEECH – Parte 02

Anônimo

Estava em casa numa noite de sábado assistindo TV. Gosto da TV. Principalmente quando ela está desligada. Não gosto é da programação pública oferecida. Detesto programas televisivos. Sentado e sem muitas opções de canais alegres e sinceros, ali estava sendo sucumbido por notícias do país e de todo sistema solar. Resumos forjados, esportes de merda, matérias das mais variadas sobre militarismo; como o poder bélico que os paises “desenvolvidos” detêm e são usufruídos sob uma estética psicológica do medo encima dos países de 3º mundo; desfiles e mais desfiles de “autoridades” religiosas: babacas papais; autarquias governamentais falidas; miséria global, índices de desemprego que assolam e assombram nações; a falta de moradia, saúde e educação; fome e desnutrição... Etc. & etc. Depois de ter engolido todo o lixo-televisivo, precisava de algo concreto para sobreviver. No intervalo daqueles comerciais lisérgicos que ditam moda: “Compre isso para se tornar Aquilo” ou “Compre aquilo para se tornar Isso”, aproveitei e fui até a cozinha para forrar o estômago. Abri a geladeira, nada. Apenas uma pizza barata. Daquelas mais vagabundas. Peguei-a, olhei com um olhar clínico de gourmet. A data de validade estava borrada. Naquela altura, nada disso importava. Continuei com minha biopsia literária. Analisei cada linha contida nas instruções, para se obter um bom resultado daquela dádiva culinária. Após dissecar linha por linha, conclui que, era mais tranqüilo do quê ler bulas de remédios. Prontifiquei-me a assá-la, liguei o forno. Enquanto o forno aquecia, senti falta de uma companhia para o esplendoroso jantar. Uma bebidinha, não seria nada mau. Havia litros e mais litros... D’água, armazenados em garrafas pet e Todos aconchegados exatamente e maravilhosamente na parte inferior da porta da geladeira. Isso não cairia bem. Poderia causar-me inchaço na barriga. Além de outras atrocidades maléficas. Juntei alguns trocados que achei, não me lembro onde. Não eram suficientes para uma pequena e respeitosa embriagueis. Recorri até o santificado cofrinho. Contei todas as míseras moedas que estavam sendo economizadas com o único e exclusivo propósito insólito de comprar uma passagem, só de ida, para o Caribe ou outro lugar qualquer. Hoje, elas (as moedinhas), e a bebida me transportarão para onde eu quiser. Até mesmo para o Tibet. Somei as gloriosas moedas aos miúdos trocados. Sim! Um valor digno para acabar deitado, seminu, no sofá, até o dia raiar. A maldita pizza já estava exalando teus aromas afrodisíacos. Resolvi ir logo, até um comércio local, e mais próximo. A pizza estaria pronta em poucos minutos. Ao sair do estabelecimento, de posse de magníficas long-necks (as famosas ampolas), um peçonhento andarilho fitou-me nos olhos, mirou-me e disparou suas proféticas palavras:

“ME-CONDUZA-PARA-O-INFERNO!!!”

Antes que eu pudesse dialogar algo, para me defender ou até mesmo, consolá-lo, num piscar de olhos, aquela criatura se esvaiu sorrateiramente, blasfemando para os quatro mundos, sua dor. Estático, estupefato e perplexo com as lindas palavras recitadas pelo andante, pus-me a disposição do encantador destino que me aguardava: Drinks, pizza, e TV. A intrigante frase maravilhava-me, acompanhando-me até meu refúgio. Após todo esse estrondo, me dei conta de duas coisas: 1º não nasci para regras. Todo o esforço em seguir cada detalhe informativo sobre o preparo da guloseima, foi em vão, a pizza se transformou naqueles biscoitões duros e também queimou as beirolas. E segundo, de certa forma, Todos nós, animais, objetos (animados e inanimados) e pizzas, de um jeito ou de outro, somos Todos conduzidos para o inferno.

Belo Horizonte, sexta-feira, 13 de junho de 2008.

A pedidos de Marcos Assis Cárdeo, My Brother

Trecho de SPEECH – Parte 01

Henrique

Caminhava pela Rua dos Tupis, esquina com Paraná, parte suja da cidade. Muita poluição, barulho, proletários carregando seus coxos junto ao peito, vendedores ambulantes, pequenos furtos... Quando me deparei com um antigo amigo. Estava abatido, magro, com olheiras profundas, cabelo ralo e seboso, e ainda lhe restavam alguns dentes quebrados na boca. Nas raras vezes que me encontrei com ele, havia sempre uma nova cicatriz em seu rosto. Por vezes, quando o encontrava na zona boemia da capital, estava bêbado. Sempre com um dos olhos inchado, ou a boca pingando sangue fresco, além de pequenas escoriações pelo franzino corpo, nada muito grave. Crescemos juntos num bairro da Zona Noroeste de Belo Horizonte. Ficamos ali na esquina, recordando nossa infância, parados em frente a um estabelecimento que comercializa fumo de rolo. Uma suposta tabacaria. Por pequenos momentos, ficamos nostálgicos. Revivi em minha memória, os fundos do lote da residência onde ele morava. Isolado da casa, num quartinho mofado, morava seu falecido tio que descascava fumo de rolo encostado em um enorme forno de barro, construído ao lado do quartinho. Até hoje não sei dizer se o Tio era aposentado ou desempregado. Figura calada, quase muda. Quando ele saía, entrávamos naquele misterioso quartinho. Nenhum familiar sabia para onde o Tio ia e pra quê, e nem a que horas retornava. Por isso éramos rápidos em nossas investidas visitas. Meu amigo folheava as revistas de sacanagem, enquanto eu apreciava um acordeom que continha um furo na lona do instrumento. Havia também alguns livros antigos com as páginas bastante amareladas e uma velha máquina de escrever num canto. Não havia muita mobília. Uma cama de solteiro com colchão de palha, uma pequena mesa de madeira carcomida, junto a uma cadeira de metal enferrujada, um ferro de passar roupas que, nas horas vagas era usado como apoio de livros; um velho radinho a pilha e uma caixa de papelão onde o tio dele condicionava os poucos ternos e demais vestias que possuía e também as revistas pornográficas. Num outro canto se encontrava um aparador de chapéus. Parecia-me ser um homem extremamente elegante. Quando não estávamos espionado, brincávamos no quintal. Lembro-me do som incessante da máquina de escrever. Uma verdadeira metralhadora. Nunca encontrei sequer um único texto em nossas aventuras no quartinho. E por ironia, hoje estou escrevendo sobre isso. Despedi-me de meu amigo, num dia qualquer e que poderia ser um dia comum. Só que neste dia foi diferente. Antes de ir, disse-me com ar tristonho e melancólico que sua mãe estava à beira da morte e que não o reconhecia mais, assim como os demais entes, já não tão queridos. E que ele estava prestes a se casar mais uma vez. Tive pena, pelas duas desgraças relatadas. Notei em seu olhar uma luzinha que estava se apagando. Como as que já vi nos olhos de cães de rua que acabam de ser atropelados. Ela diminui, dissipa e se apaga. Quando crianças, dizíamos ser o melhor amigo um do outro. Naquele Ar denso, numa esquina fudida, não tinha nada para dizer a ele. A não ser... lamentar.

Belo Horizonte, sexta-feira, 13 de junho de 2008.