quinta-feira, 30 de abril de 2009

Quanto mais conheço os homens, mais admiro os animais. (Alexandre Herculano)

Revirando uns badulaques, encontro a única fotografia que possuo do Ser que me fez companhia – verdadeira – durante um curto período, no ano de 2002. Nesta época não recebia visitas de parentes e nem de colegas ou pessoas que se intitulam como amigas. Dividia o aluguel junto a um rótulo de irmão (termo referido apenas como biológico). E meus pais residiam em outro estado, não havendo possibilidades de vê-los ou contactá-los, pois ostentava um escasso recurso financeiro. O que me impedia de investir em eventuais visitas familiares, através de viagens anuais e/ou esporádicas. A linha telefônica que possuíamos era monopolizada e monitorada pela megera companheira do meu pseudo-irmão. Para suprir gastos a “nossa linha” foi cancelada e para piorar a situação me demitiram no presente momento. Sem grana para a condução, procurava emprego a pé. Em média uma hora e vinte de caminhada até o centro. Isso com passos apertados. Sem um telefone de contato fixo, ficava difícil ter respostas das empresas na qual me inscrevia. Por não ter condições de arcar com as despesas do barracão, o mesmo dito irmão de sangue, além de etiquetar alimentos e por fim, esconder mantimentos... Mais tarde me pôs na rua. Não sei ao certo, mas, acredito que logo depois o Duque (vide foto), também foi posto no olho da rua, por não manter uma digna postura de cão de guarda. Apesar do meu “irmão” ter encontrado e adquirido o fiel amigo do homem, na irônica rua, e de ser um dobermann com a alcunha de ser considerada uma raça violenta, era um cachorro dócil demais pela fama. Não agredia nem uma mosca, muito menos uma formiga. Provavelmente ele foi atropelado. E morto. Após o meu fraterno despejo, fui acolhido por uma pessoa singular, com a qual moro de favor até hoje e agradeço eternamente. Contudo, talvez como no descrito destino do estimado cão, sinto que também estou sendo morto a cada dia que passa, por um sistema que me atropela incessantemente sem chances de me deixar erguer. Posto a margem como um atual desempregado. Deixo registrado aqui, a saudosa recordação que tenho deste simples amigo, quando, ao som do poeta americano Bob Dylan, ressoando na agulha da arcaica vitrolinha, compartilhava junto ao Duque, nossa única refeição diária: dois mini-pãezinhos de sal mergulhados num café, durante os últimos meses de convívio passados, um ao lado do outro, antes da nossa ordem de despejo, ditada pela chancela do falho irmão. Espero que o meu velho companheiro tenha tido sorte igual, ou melhor, do que a minha. Saudades Duquecão! 

[Trilha para leitura: Jokerman, B. Dylan].